terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Selinhos #

               Olhem eu akie de novo!
              
               Esses selinhos eu ganhei da Jaquellinnee do blog Just So You Know  \ooo/  VALEUUU





                Minhas respostas vc's conferem AKIE


                Esse eu ganhei da Jane do blog A Pior Versão de Mim WOAAAH! *---* brigadin, Jane




Nome:Manuh
Uma música: Comatose, Skillet 
Humor: no momento  feliz, um pouco revolts
Uma cor: Roxo
Uma estação: Inverno.
Você prefere viajar: ou ficar em casa? Isso vai depender do lugar... se for um lugar onde não se vê o sol 99% do dia, até que vai... Mas prefiro minha casa ;P
Um seriado: no momento: TVD e uns animês : FMA BrotherHood, Soul Eater e Death Note -- novamente
Uma frase ou uma palavra mais dita por você: Tipo; não dá; droga; Kaio, vai se ferrar (Meu irmão patético); isso é tão legal e  PQP!
O que você achou do selo: adorei ;P
Indico:


sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Parceirias 2#*

           Olá, povo!!!
          
           A Editora Underworld abriu espaço para parceirias com 100 novos blogs, legal não? E o EvAngelsHell foi um deles *---------* -- OEOEOEOEOEOE-- (Peguei a expressão da Pam, não liga, isso pega mesmo) Eu estou muiiitttoo feliz com isso, preciso dizer mais?





           Esses novos parceiros participaram do projeto Book Tour "duas palavrinhas apenas mas uma idéia genial", como disse Fabi do Blog da Underworld . E bota genial nisso! Os blogs foram divididos em 5 grupos de 20 blogs cada.  A  Editora vai mandar os livros, um exemplar para cada grupo: Os Vampiros de Morganville, Instintos Cruéis e Sussurros de uma Garota Apaixonada que cada blogueiro fará a resenha e divulgará, depois, repassará os livros entre os blogs do grupo.
           "O Book Tour consiste simplesmente no envio de um exemplar de um dos títulos que estaremos lançando que será repassado para os demais blogs de forma que ele faça um tour pelos parceiros da Editora"
           Ideia perfeita! Penso como ninguém pensou nisso antes. Ameiiii
          
           E meu  blog está dentro do 3º grupo, AEH! Visitei todos os blogs que são d++, pra resumir, e seguindos todos *-* e indico eles também, aí vai:

- Sempre Nerd
- Sempre Lendo
- Frases de Livro
- Kabokitas
- A Literata
- It BooK
- My World
- A Leitora
- Burn Book
- Portal dos Livros
- Leitora Voraz
- Avada Kedavra
- Grintmess
- Cks Books
- Give us this day our daily... book!
- O Mundo de Tinta
- Nick Font
- Nahtureza

Parceiria#* Aflorecer

           Hey,Dear's!!!
           Estou akie pra anunciar minha nova parceiria com Aflorecer.



            Aflorecer é o livro da minha querida Pamella Santos *-----------*. A Pam tem 18 aninhos e assim como Aflorecer é uma pessoa Fantástica!!! -- Digo, fantástico seria pouco para descrever ambos. Aiii eu amoo a história do começo ao fim -- A Nessa taí pra provar, coitada tem que me aguentar falar do livro quase sempre SUHAUSHUAHS.
           Então pra diminuir a curiosidade de vc's aí vai a sinopse:   

          "O que você faria se tudo em que acreditasse fosse uma grande mentira?
           Em quem confiaria?
           A vida de Helene sempre foi uma maravilha.
           Mas até mesmo isso mudou ao longo do tempo.
           Quando se é alguém lívido e cheio de vontade de viver, como acreditar que um dia isso tudo pode acabar?

           Helene narra sua tragetória entre os altos e baixos de sua nova vida. Filha de um rei excêntrico e irmã de uma garota fútil e egoista ela tem que saber acreditar em si mesma e provar aos outros do que é capaz. Não necessariamente ao pé da letra, claro. Junto com seus aliados e sua amiga Yufa, tentam descobrir uma série de mortes que assolam o reino de Zéfiro, sempre assegurando para que o verdadeiro mal não retorne.
            Uma trama cheia de mistérios e traições onde o que parace nem sempre é... ou será."

           Vc's coferem a história completa no blog Aqui
            Comunidade no orkut Aqui
           A continuação  Desvanescer logo,logo estará aí pra gente *----*
           Entrem neste mundo também-- recomendadíssimo-- Vicia like Comatose!!!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

+++ Selinhos!!! WOA!


           Recebi um selinho da Jaquellinne do blog Just So You Now  e também outro da minha superbest Vanessa do blog I'm a Poison Girl   \oooo/. VALEUUUU GENTEEE!!!
           Já era pra ter feito esta postagem há um tempão, eu sei, mas como estou enroladaça... Foi agora mesmo. (Olha que estou no pc do trampo suahushaushuahsuahusaushua, mas tô com um tempinho de sobra akie, então, sem problemas) ;P


         Vc's conferem as regras, minhas respostas e blogs que indico AKIE



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Ihh, caralh... Caramba! +++ Venha ver o pôr- do- Sol

           Ihhh, revolta mesmo!!! 
           Estou enroladassa -- culpem a internet e a tv que disputam minha ateção (Brinks :P) -- meu tempo é muito curto e dia acaba antes que eu acorde direito -- isso é que dá dormir de mais também, né?. E ainda por que tenho que mudar o nome do meu baby D:! Já tem um livro com o mesmo nome, BLÁ ¬¬ Vocês nem imaginam os absurdos que passaram pela minha cabeça... Mas já tenho um novo nome em mente, que ainda não irei trocar, pode aparecer um outro melhor, não?    
O povo tá gostando dele e eu também acho que ficaria bom, mas não custa nada remexer a mente mais um pouquinho à procura. Me dêem uma luz!!! Preciso de algo que mostre um fim, mas não definitivo. Quando eu trocar vai ser permanente, não importa nada, vai ser aquele mesmo e ponto! Pois é, eu sei, é revoltante!!! Q vontade de arrancar os cabelos!
           E bom, para compensá-los , ao menos tentar, pela demora do Capítulo 7 -- É que, gente, eu tenho ideias, muitas ideias e não posso deixá-las escaparem. Elas vão aparecendo e eu vou escrevendo. Daí vc's me perguntam "Pow, se o cap 7 e alguns outros estão prontos, o que está esperando para postá-los, caramba?" Bom, gente, é que eu tenho complexo. Eu tenho que ler, reler e reler antes de mostrar pra vc's. Preciso ver se não tem nada fora do lugar. Tudo tem que estar nos conformes *--------*
           Mas então, postarei akie um conto --- aiiiiii que é super!. E juro que até sexta o cap  7 estará postado. 
           Venha ver o por do sol de Lygia Fagundes Telles, que apesar do nome soar romântico... Vixe! é melhor vc's lerem pra não perderem a diversão. 





Venha ver o pôr-do-sol


  Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalha­das sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde.
  Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinha um jeito jovial de estudante.
- Minha querida Raquel.
  Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sa­patos.
- Veja que lama. Só mesmo você inventaria um encontro num lugar destes. que idéia, Ricardo, que idéia! Tive que descer do táxi lá longe, jamais ele chegaria aqui em cima.
  Ele sorriu entre malicioso e ingênuo.
- Jamais, não é? Pensei que viesse vestida esportivamente e agora me aparece nessa elegância... quando você andava comigo, usava uns sapatões de sete léguas, lembra?
- Foi para me dizer isso que você me fez subir até aqui? - perguntou ela, guardando o lenço na bolsa. Tirou um cigarro. - Hem?!
- Ah, Raquel... - e ele tomou-a pelo braço, rin­do. - Você está uma coisa de linda. E fuma agora uns cigarrinhos pilantras, azul e dourado... Juro que eu tinha que ver ainda uma vez toda essa beleza, sentir esse perfume. Então? Fiz mal?
- Podia ter escolhido um outro lugar, não? - Abrandara a voz. - E que é isso ai? Um cemitério?
  Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido pela ferrugem.
- Cemitério abandonado, meu anjo. Vivos e mor­tos desertaram todos. Nem os fantasmas sobraram, olha aí como as criancinhas brincam sem medo - acrescen­tou, lançando um olhar 'às crianças rodando na sua ciranda.
  Ela tragou lentamente. Soprou a fumaça na cara do companheiro.
- Ricardo e suas idéias. E agora? Qual é o pro­grama?
  Brandamente ele a tomou pela cintura.
- Conheço bem tudo isso, minha gente está enter­rada aí. Vamos entrar e te mostrarei o pôr-do-sol mais lindo do mundo.
Perplexa, ela encarou-o um instante. E vergou a cabeça para trás numa risada.
- Ver o pôr-do-sol!... Ah, meu Deus... Fabuloso, fabuloso!... Me implora um último encontro, me ator­menta dias seguidos, me faz vir de longe para esta buraqueira, só mais uma vez, só mais uma! E para quê? Para ver o pôr-do-sol num cemitério...
  Ele riu também, afetando encabulamento como um menino em falta.
- Raquel, minha querida, não faça assim comigo. Você sabe que eu gostaria era de te levar ao meu aparta­mento, mas fiquei mais pobre ainda, como se isso fosse possível. Moro agora numa pensão horrenda, a dona é uma Medusa que vive espiando pelo buraco da fecha­dura...
- E você acha que eu iria?
- Não se zangue, sei que não iria, você está sendo fidelíssima. Então pensei, se pudéssemos conversar um pouco numa rua afastada... - disse ele, aproximando-se mais. Acariciou-lhe o braço com as pontas dos dedos. Ficou sério. Aos poucos, inúmeras rugazinhas foram-se formando em redor dos seus olhos ligeiramente aperta­dos. Os leques de rugas se aprofundaram numa expressão astuta: não era nesse instante tão jovem como aparen­tava. Mas logo sorriu e a rede de rugas desapareceu sem deixar vestígio. Voltou-lhe novamente o ar inexperiente e meio desatento. - Você fez bem em vir.
- Quer dizer que o programa... E não podíamos tomar alguma coisa num bar?
- Estou sem dinheiro, meu anjo, vê se entende.
- Mas eu pago.
- Com o dinheiro dele? Prefiro beber formicida. Escolhi este passeio porque é de graça e muito decente, não pode haver um passeio mais decente, não concorda comigo? Até romântico.
  Ela olhou em redor. Puxou o braço que ele apertava.
- Foi um risco enorme, Ricardo. Ele é ciumentís­simo. Está farto de saber que tive meus casos. Se nos pilha juntos, então sim, quero só ver se alguma das suas fabulosas idéias vai me consertar a vida.
- Mas me lembrei deste lugar justamente porque não quero que você se arrisque, meu anjo. Não tem lugar mais discreto do que um cemitério abandonado, veja, completamente abandonado - prosseguiu ele, abrindo o portão. Os velhos gonzos gemeram. - Jamais seu amigo ou um amigo do seu amigo saberá que estivemos aqui.
- É um risco enorme, já disse. Não insista nessas brincadeiras, por favor. E se vem um enterro? Não su­porto enterros.
- Mas enterro de quem? Raquel, Raquel, quantas vezes preciso repetir a mesma coisa?! Há séculos ninguém mais é enterrado aqui, acho que nem os ossos sobraram, que bobagem. Vem comigo, pode me dar o braço, não tenha medo.
  O mato rasteiro dominava tudo. E não satisfeito de ter-se alastrado furioso pelos canteiros, subira pelas sepul­turas, infiltrara-se ávido pelos rachões dos mármores, invadira as alamedas de pedregulhos enegrecidos como se quisesse com sua violenta força de vida cobrir para sempre os últimos vestígios da morte. Foram andando vagarosamente pela longa alameda banhada de sol. Os passos de ambos ressoavam sonoros como uma estranha música feita ao som das folhas secas trituradas sobre os pedregulhos. Amuada mas obediente, ela se deixava con­duzir como uma criança. As vezes mostrava certa curiosi­dade por uma ou outra sepultura com os pálidos medalhões de retratos esmaltados.
- É imenso, hem? E tão miserável, nunca vi um cemitério mais miserável, é deprimente - exclamou ela, atirando a ponta do cigarro na direção de um anjinho de cabeça decepada. - Vamos embora, Ricardo, chega.
- Ah, Raquel, olha um pouco para esta tarde! Deprimente por quê? Não sei onde foi que eu li, a beleza não está nem na luz da manhã nem na sombra da noite, está no crepúsculo, nesse meio-tom, nessa incerteza. Estou-lhe dando um crepúsculo numa bandeja e você se queixa.
- Não gosto de cemitério, já disse. E ainda mais cemitério pobre.
Delicadamente ele beijou-lhe a mão.
- Você prometeu dar um fim de tarde a este seu escravo.
- É, mas fiz mal. Pode ser muito engraçado, mas não quero me arriscar mais.
- Ele é tão rico assim?
- Riquíssimo. Vai me levar agora numa viagem fabulosa até o Oriente. Já ouviu falar no Oriente? Vamos até o Oriente, meu caro...
  Ele apanhou um pedregulho e fechou-o na mão. A pequenina rede de rugas voltou a se estender em redor dos seus olhos. A fisionomia, tão aberta e lisa, repenti­namente ficou envelhecida. Mas logo o sorriso reapareceu e as rugazinhas sumiram.
- Eu também te levei um dia para passear de barco, lembra?
Recostando a cabeça no ombro do homem, ela retar­dou o passo.
- Sabe, Ricardo, acho que você é mesmo meio tantã... Apesar de tudo, tenho às vezes sau­dade daquele tempo. Que ano aquele. Palavra que quan­do penso não entendo até hoje como agüentei tanto. Um ano!
- É que você tinha lido A Dama das Camélias, fi­cou assim toda frágil, toda sentimental.           E agora? Que romance você está lendo agora?
- Nenhum - respondeu ela franzindo os lábios. Deteve-se para ler a inscrição de uma laje despedaçada: - A minha querida esposa, eternas saudades. - Fez um muxoxo. - Pois sim. Durou pouco essa eternidade.
  Ele atirou o pedregulho num canteiro ressequido.
- Mas é esse abandono na morte que faz o encanto disto. Não se encontra mais a menor intervenção dos vivos, a estúpida intervenção dos vivos. Veja - disse, apontando uma sepultura fendida, a erva daninha bro­tando insólita de dentro da fenda - o musgo já cobriu o nome na pedra. Por cima do musgo, ainda virão as raízes, depois as folhas... Esta a morte perfeita, nem lembrança, nem saudade, nem o nome sequer. Nem isso.
   Ela aconchegou-se mais a ele. Bocejou.
- Está bem, mas agora vamos embora que já me diverti muito, faz tempo que não me divirto tanto, só mesmo um cara como você podia me fazer divertir assim.
- Deu-lhe um beijo rápido na face. - Chega, Ricardo, quero ir embora.
- Mais alguns passos...
- Mas este cemitério não acaba mais, já andamos quilômetros! Olhou para trás - Nunca andei tanto Ricardo, vou ficar exausta.
- A boa vida te deixou preguiçosa? Que feio - lamentou ele empurrando a para a frente Dobrando esta alameda fica o jazigo da minha gente e de lá que se vê o pôr-do-sol.- E tomando a pela cintura. Sabe, Raquel, andei muitas vezes por aqui de mãos dadas com minha prima. Tínhamos então doze anos. Todos os do­mingos minha mãe vinha trazer flores e arrumar nossa capelinha onde já estava enterrado meu pai. Eu e minha priminha vínhamos com ela e ficávamos por ai, de mãos dadas, fazendo tantos planos. Agora as duas estão mortas.
- Sua prima também?
- Também. Morreu quando completou quinze anos. Não era propriamente bonita, mas tinha uns olhos... Eram assim verdes como os seus, parecidos com os seus. Extraordinário, Raquel, extraordinário como vocês duas... Penso que toda a beleza dela residia apenas nos olhos, assim meio oblíquos, tão brilhantes.
- Vocês se amaram?
- Ela me amou. Foi a única criatura que... - Fez um gesto. - Enfim, não tem importância.
  Raquel tirou-lhe o cigarro, tragou e depois devol­veu-o.
- Eu gostei de você, Ricardo.
- E eu te amei. E te amo ainda. Percebe agora a diferença?
  Um pássaro rompeu o cipreste e soltou um grito. Ela estremeceu.
- Esfriou, não? Vamos embora.
- Já chegamos, meu anjo. Aqui estão meus mortos.
  Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. No centro do cubículo, um altar meio desmantelado, coberto por uma toalha que adquiria a cor do tempo. Dois vasos de desbotada opalina ladeavam um tosco crucifixo de madeira. Entre Os braços da cruz, uma aranha tecera dois triângulos de teias já rompidas, pen­dendo como farrapo. de um manto que alguém colocara sobre os ombros de Cristo. Na parede lateral, à direita da porta, uma portinhola de ferro dando acesso para uma escada de pedra, descendo em caracol para a catacumba.
  Ela entrou na ponta dos pés, evitando roçar mesmo de leve naquelas ruínas.
- Que triste que é isto, Ricardo. Nunca mais você esteve aqui?
  Ele tocou na face da imagem recoberta de poeira.
- Sei que você gostaria de encontrar tudo limpi­nho, flores nos vasos, velas, sinais da minha dedicação, certo? Mas já disse que o que mais amo neste cemitério e precisamente este abandono, esta solidão. As pontes com o outro mundo foram cortadas e aqui a morte se isolou total. Absoluta.
  Ela adiantou-se e espiou através das enferrujadas barras de ferro da portinhola. Na semi-obscuridade do subsolo, os gavetões se estendiam ao longo das quatro paredes que formavam um estreito retângulo cinzento.
- E lá embaixo?
- Pois lá estão as gavetas. E, nas gavetas, minhas raízes. Pó, meu anjo, pó - murmurou ele. Abriu a portinhola e desceu a escada. Aproximou-se de uma gaveta no centro da parede, segurando firme na alça de bronze, como se fosse puxá-la. - A cômoda de pedra. Não é grandiosa?
  Detendo-se no topo da escada, ela inclinou-se para ver melhor.
- Todas essas gavetas estão cheias?
- Cheias?... - Sorriu. - Só as que têm o retrato e a inscrição, está vendo? Nesta está o retrato da minha mãe, aqui ficou minha mãe - prosseguiu ele, tocando com as pontas dos dedos num medalhão esmaltado, em­butido no centro da gaveta.
  Ela cruzou os braços. Falou baixinho, um ligeiro tremor na voz.
- Vamos Ricardo, vamos.
- Você está com medo.
- Claro que não, estou é com frio. Suba e vamos embora, estou com frio!
  Ele não respondeu. Adiantara-se até um dos gavetões na parede oposta e acendeu um fósforo. Inclinou-se para o medalhão frouxamente iluminado.
- A priminha Maria Camila. Lembro até do dia em que tirou esse retrato. Foi duas semanas antes de morrer... Prendeu os cabelos com uma fita azul e veio se exibir, estou bonita? Estou bonita?... - Falava agora consigo mesmo, doce e gravemente. - Não, não é que fosse bonita, mas os olhos... Venha ver, Raquel, é impres­sionante como tinha olhos iguais aos seus.
  Ela desceu a escada, encolhendo-se para não esbar­rar em nada.
- Que frio faz aqui. E que escuro, não estou enxer­gando...
  Acendendo outro fósforo, ele ofereceu-o à compa­nheira.
- Pegue, dá para ver muito bem... - Afastou-se para o lado. - Repare nos olhos.
- Mas está tão desbotado, mal se vê que é uma moça... - Antes da chama se apagar, aproximou-a da inscrição feita na pedra. Leu em voz alta, lentamente. - Maria Camila, nascida em vinte de maio de mil e oitocen­tos e falecida... - Deixou cair o palito e ficou um instante imóvel. - Mas esta não podia ser sua namorada, morreu há mais de cem anos! Seu menti...
  Um baque metálico decepou-lhe a palavra pelo meio. Olhou em redor. A peça estava deserta. Voltou a olhar para a escada. No topo, Ricardo a observava por detrás da portinhola fechada. Tinha seu sorriso meio inocente, meio malicioso.
- Isto nunca foi o jazigo da sua família, seu menti­roso! Brincadeira mais cretina! - exclamou ela, subindo rapidamente a escada. - Não tem graça nenhuma, ouviu?
  Ele esperou que ela chegasse quase a tocar o trinco da portinhola de ferro. Então deu uma volta à chave, arrancou-a da fechadura e saltou para trás.
- Ricardo, abre isto imediatamente! Vamos, ime­diatamente! - ordenou, torcendo o trinco. - Detesto este tipo de brincadeira, você sabe disso. Seu idiota! É no que dá seguir a cabeça de um idiota desses. Brincadeira mais estúpida!
- Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta. Depois, vai se afastan­do devagarzinho, bem devagarzinho. Você terá o pôr-do-sol mais belo do mundo.
  Ela sacudia a portinhola.
- Ricardo, chega, já disse! Chega! Abre imediatamente, imediatamente! - Sacudiu a portinhola com mais força ainda, agarrou-se a ela, dependurando-se por entre as grades. Ficou ofegante, os olhos cheios de lágrimas. Ensaiou um sorriso. - Ouça, meu bem, foi engraçadís­simo, mas agora preciso ir mesmo, vamos, abra...
  Ele já não sorria. Estava sério, os olhos diminuídos. Em redor deles, reapareceram as rugazinhas abertas em leque.
- Boa-noite, Raquel.
- Chega, Ricardo! Você vai me pagar!... - gritou ela estendendo os braços por entre as grades, tentando agarrá-lo. - Cretino! Me dá a chave desta porcaria, vamos! - exigiu, examinando a fechadura nova em folha. Examinou em seguida as grades cobertas por uma crosta de ferrugem. Imobilizou-se. Foi erguendo o olhar até a chave que ele balançava pela argola, como um pêndulo. Encarou-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalhou os olhos num espasmo e amoleceu o corpo. Foi escorregando. -  Não, não...
  Voltado ainda para ela, Ricardo recuou até a porta e abriu os braços. Foi puxando as duas folhas escancaradas.
- Boa-noite, meu anjo.
  Os lábios dela se pregavam um ao outro, como se entre eles houvesse cola. Os olhos  rodavam pesadamente numa expressão embrutecida.
- Não...
  Guardando a chave no bolso, ele retomou o caminho percorrido. No breve silêncio, o som dos pedregulhos se entrechocando úmidos sob seus sapatos. E, de repente, o grito medonho, inumano:
- NÃO!
  Durante algum tempo ele ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes aos de um animal sendo estraçalhado. Depois, os uivos foram ficando mais remo­tos, abafados como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, lançou ao poente um olhar mortiço. Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi descendo a ladeira. Crianças ao longe brin­cavam de roda.

Lygia Fagundes Telles

1958
In “Mistérios”, Nova Fronteira,
 
 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Online Project management